A colonização do Sudoeste se intensificou na década de 50, entretanto, no dia 26 de junho de 1909, no distrito de Vila Nova (Pato Branco), nascia Luzidirio Gaspar, conhecido como Lúcio. Na identidade, a cidade natal ainda é Clevelândia, município que já tem 122 anos. "Vivi em toda parte. Eu não parava em lugar nenhum. Caminhei, caminhei, caminhei e fui parando. Ficava só se mudando", lembra o idoso que reside em Dois Vizinhos. "Faz tempo [que chegou a Dois Vizinhos]. Eu não vou dizer que dia entrei porque não lembro", completa.
A idade, no entanto, ele tem na ponta da língua. "Eu tô com 105", conta. Ele teve 10 filhos (dois já faleceram), 17 netos e cinco bisnetos. A esposa, Doralina Gaspar, tem 88 anos e está internada em Francisco Beltrão com problemas de saúde. Indagado se encontrou muito mato quando chegou em Dois Vizinhos, Lúcio responde: "Era povoadinho. Tinha tudo que é tipo de bicho (risos). Tinha tigre, porco do mato, tateto, de tudo que é bicho, mas já mataram tudo pra comer, ou foram embora".
Ele sempre gostou de viver no interior. "Morei só no mato, trabalhei na roça. Fazia tudo que é serviço. Plantava, cortava, derrubava. Gostava muito da roça. A gente ia vender no cargueiro, do lado do cavalo. A bruaca no ombro. A gente tinha força no braço", afirma.
Nesses 105 anos, mesmo sem participar, Luzidirio Gaspar vivenciou a Guerra do Contestado e duas guerras mundiais. "Ouvia falar. Aquele tempo já passou. Quem ia servir, ia de cavalo pra brigar na guerra. Eles iam brigar e voltava um bom punhado. Voltava bastante gente. Acho que 25 mil que foram pra guerra vieram embora. Naquele tempo, ouvia falar. Não ia servir a pessoa que era fraca, tinha qualquer coisa no corpo. Não prestava. Tinha que ser bem são. Tem que ter destreza para brigar, pegar fuzil, metralhadora. Eu ouvia falar, mas nunca vi. Quem ia pra guerra, ia brigar, não pra olhar. Eu não prestava", lembra.
Se não bastasse, quando ele tinha 48 anos de idade aconteceu a Revolta do Posseiros na região Sudoeste. "Ouvia falar, mas não lembro. Eles falavam que iam pegar os camaradas. O povo ficava escondido no mato. Levava o revólver, as Winchester, pra se defender. Meu pai tinha arma, eu não. Eu ia pro mato e só levava a ferramenta pra trabalhar. Eles falavam que iam matar todos os home. As mulher, de medo, iam se esconder no mato. Aí os bandidos chegavam com os cavalo magro, seco de tanto caminhar e trocavam pelos cavalos gordo, conclui.