De 20 a 22 de abril de 2015 ocorreu na cidade de Marechal Cândido Rondon - PR, o IX Encontro Ampliado da Rede Ecovida de Agroecologia. O evento aconteceu paralelamente ao VII Encontro Regional de Agroecologia(ERA). Resultado de um processo histórico de construção de alternativas ao modelo atual de agricultura, a Rede Ecovida de Agroecologia caracteriza-se pela articulação de vários segmentos da sociedade com o objetivo de organizar, fortalecer e ampliar a agricultura ecológica familiar no Sul do Brasil. Para este fim, estão conectados agricultores, técnicos, pequenas agroindústrias, comerciantes ecológicos e consumidores conscientes organizados em associações, cooperativas, ONGs e grupos informais que constituem os núcleos regionais, células autônomas que, ao se relacionarem e mobilizarem em ações conjuntas, formam a rede Ecovida de Agroecologia. A rede se articula pela construção de um novo modelo de agricultura e de sociedade, baseados nos princípios de solidariedade, de cooperação e respeito ao meio ambiente.
No encontro percebi a presença de representantes de diversos países latino-americanos e tive o prazer de reencontrar o pastor luterano Werner Fuchs. Fuchs é muito conhecido na região desde o conflito de Itaipu onde teve uma atuação significativa junto aos agricultores atingidos pela construção da barragem. Residindo atualmente em Curitiba, Fuchs participa do Conselho do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Embora o Paraná esteja passando por um recuo no que tange o incentivo oficial à produção de alimentos saudáveis, nas palavras do pastor, a demanda por alimentos não contaminados está aumentando sendo que a produção não consegue atender a procura. As pessoas vão descobrindo de que correr atrás de alimentos confiáveis é mais vantajoso do que procurar um médico.
Contudo, se de um lado se observa uma crescente demanda por produtos agroecológicos, percebe-se também uma preocupação entre os diversos núcleos que formam a rede em articular-se melhor como economia alternativa diante do rolo compressor de uma economia onde o alimento virou apenas um produto. Alguns pontos importantes foram debatidos os quais deverão balizar a ações da rede nos próximos anos. Um deles é o fortalecimento dos mercados locais, valorização das experiências de vizinhança e a desmistificação da ideia de que o produto ecológico é necessariamente mais caro do que o "convencional". Sendo assim, a meta da rede é fazer com que o produto ecológico possa chegar ao maior número de pessoas possíveis.
Há ainda outros desafios a serem vencidos, como os trâmites burocráticos e legislativos para se construir uma pequena agroindústria familiar, por exemplo. Mas isso não impede de a rede ver com otimismo a proliferação geográfica dos núcleos associados à entidade. É uma luta coletiva na busca de uma maior compreensão sobre a essência da vida a partir das práticas dos próprios protagonistas. Observei ainda que algumas questões voltadas a concepções teóricas entre "agricultura camponesa" e "agricultura familiar" ficaram em segundo plano, sendo que outros aspectos como sinergia de interesses e o compartilhamento de saberes, adquiriram maior relevância.
Eu diria que a experiência da Rede Ecovida é a favor da civilização. Trata-se de uma insurgência contra a degradação do ser humano. Constitui-se num ato de fé na vida. Parafraseando o culturalista indiano Homi Bhabha, trata-se de renovar o passado, refigurando-o como um entre-lugar contingente que inova e interrompe a atuação do presente. E neste caso, "O passado-presente torna-se parte da necessidade, e não da nostalgia, de viver".