Faleceu por volta das 07h00min da manhã de ontem (24) em Toledo, o Padre Raulino Cavaglieri, aos 73 anos de idade, o qual vinha lutando contra um câncer no pulmão, a cerca de 03 anos, sem que nunca tivesse fumado um cigarro sequer. Seu corpo foi velado na Catedral Cristo Rei. O Padre Raulino nasceu em Lindóia, no município de Concórdia, Santa Catarina e foi ordenado padre em 08 de dezembro de 1.966. A prefeitura de Toledo decretou luto oficial de três dias.
Pe. Raulino lutava contra um câncer raro no pulmão há três anos. Ficou surpreso com o diagnóstico, pois não era fumante. Desde que descobriu a doença recebia intensa medicação, alguns deles até em caráter de teste. Em sua biografia estão registrados incontáveis momentos da história de fé das comunidades onde exerceu seu ministério presbiterial, inclusive na assessoria ou apoio a eventos de pastorais e movimentos eclesiais, assim como no ensino superior. Natural do município de Concórdia (SC), Pe. Raulino ingressou no Seminário Diocesano de Lajes (SC) em 1954, onde concluiu o primário. Três anos depois, iniciou os estudos do antigo segundo grau, hoje ensino médio, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Erechim (RS). Em 1960 à 1962, fez o curso de Filosofia no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Curitiba (PR). A família Cavaglieri transferiu-se para o Paraná e se instalou em Guaíra, em 1961. Em 1963, iniciou a faculdade de Teologia, no Sthudiun Theológicum e Instituto Teológico de Curitiba. Após sua conclusão, recebeu as Ordens Menores em Curitiba por D. Manoel da Silveira Delboux, e as Ordens maiores em Toledo, por D. Armando Círio, em 1966.
O primeiro bispo de Toledo, D. Armando, ordenou Pe. Raulino
sacerdote na Diocese de Toledo, em 9 de julho de 1967 (completou 48 anos de
sacerdócio em 2015). Rezou a primeira missa em Guaíra, em 16 de julho de
1967. Em 1969, foi nomeado Coordenador Diocesano da Pastoral.
Em 1972, foi enviado à Roma, fez pós-graduação em Filosofia e
em Teologia, onde recebeu o título de mestre em Filosofia Moral ou Ética pela
Pontifícia Universidade Gregoriana (Itália) e de Mestre de Teologia Espiritual no
Instituto Teresiano de Roma, em 1974. Especialista em Cultura da Modernidade
e Pós-Modernidade. Ao regressar de Roma foi nomeado Pároco da Catedral Cristo rei de Toledo. Além da vida pastoral nesta paróquia, coordenou os primeiros trabalhos de construção das atuais instalações da Catedral, inaugurada em 1985. Um ano antes, foi nomeado vigário-geral da Diocese. Foi diretor espiritual e professor do Seminário Diocesano Maria Mãe da Igreja.
Participou da criação Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busato (Facitol), instituição que inaugurou o ensino superior em Toledo, atualmente denominada campus universitário da Unioeste. Foi um trabalho intenso na década de 80 do século passado de parceria da Igreja Católica com o poder público municipal, estadual e sociedade organizada. Integrou a primeira equipe de trabalho. Foi professor na faculdade desde seu início e vice-diretor. Em 1982, foi eleito diretor, substituindo D. Geraldo Majella Agnelo, 2° bispo da Diocese de Toledo. Em 1988 Pe. Raulino assumiu como pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, de Vila Nova, e Paróquia Nossa Senhora das Graças, de Novo Sarandi, ambas localizadas em distritos de Toledo. A primeira o acolheu por outras três vezes nesta função. Em 1989 assume a Paróquia Nossa Senhora da Glória, de Quatro Pontes, deixando a paróquia de Vila Nova, mas permanecendo no trabalho concomitante com a paróquia de Novo Sarandi. A partir de 1990 Pe. Raulino torna-se pároco somente de Novo Sarandi, para melhor atender as faculdades de Toledo e Marechal Cândido Rondon. Não concluiu os estudos de doutorado no exterior, pois em fevereiro de 1995 retornou ao Brasil para atendimento da mãe que estava enferma. Em 14 de maio daquele mesmo ano com o falecimento de sua mãe e sem condições oportunas. Em 1996 como pároco de Novo Sarandi, Pe. Raulino assume aulas de Filosofia da Religião, Filosofia da Ética, Filosofia da Educação, nos diversos campus da Unioeste e na Unipar. No Centro Interdiocesano de Teologia (Cintec), de Cascavel,
lecionou Teologia das religiões. Neste local estudaram os seminaristas de
Toledo até o últimos anos com a formação da Faculdade Missioneira do Paraná
(Famipar). Em 1998 reassume a Paróquia do Distrito de Vila Nova, mas em
seguida a pedido de D. Anuar Battisti aceitou o convite para assumir
novamente a Paróquia Cristo Rei (Catedral) de Toledo. Em 2000, iniciou obras
complementares da Catedral, reformando a Sede Social, adaptando a Cripta e
construindo o Memorial “Gênesis”. Entre os anos de 2002 à 2004, tornou-se vigário da Paróquia São Pedro e São Paulo, na Vila Operária, em Toledo. No dia 4 de fevereiro de 2005 assume pela terceira vez a Paróquia de Vila Nova. Em 2011, integrou comissão nomeada pelo governo municipal de Toledo para auxiliar no resgate histórico dos nomes de pioneiros que chegaram a Toledo, nasceram ou fixaram residência no período de 1946 a 1952, que posteriormente vieram a compor o Memorial do Pioneiro, instalado no Largo São Vicente de Paulo, nas proximidades da Catedral Cristo Rei, onde estão registrados nomes de cerca de 2.800 pioneiros do município.
Em janeiro de 2012, deixa a Paróquia Nossa Senhora de Fátima
– Vila Nova (Toledo) para ser vigário na Paróquia São Francisco de Assis
(Toledo).
Ao longo do exercício de seu ministério presbiteral, Pe. Raulino
atuou em diversas pastorais e movimentos eclesiais, seja na assessoria direta
ou mesmo contribuindo com seus conhecimentos em cursos e demais
encontros de formação.
Desde 1970 atuou no MCC Movimento de Cursilhos de
Cristandade (MCC) da Diocese de Toledo, mas também em nível regional
(Paraná) e nacional.
No Apostolado da Oração, movimento de espiritualidade ao
Sagrado Coração de Jesus, dedicou grande parte de seu ministério sacerdotal.
Colaborou junto às Oficinas de Oração e Vida e assessorou em nível diocesano
a Pastoral da Educação. Portanto, assessorias que exerceu:
- Assessor Eclesiástico da Diocese junto ao Movimento de
Cursilhos de Cristandade (MCC).
- Assessor Eclesiástico da Diocese junto à Pastoral da Educação.
- Assessor Eclesiástico da Diocese junto ao Apostolado da
Oração.
- Assessorou diversas outras pastorais e movimentos na Diocese
de Toledo e em outros Estados Brasileiros.
- Professor de Mariologia na Escola Diocesana de Teologia para
Leigos.
Nas funções precípuas de sacerdote, atendeu a comunidade
sempre com atenção especial aos idosos, doentes, necessitados, atendendo
casos especiais de direção espiritual para casais e famílias.
Escreveu dezenas de artigos para a Revista Cristo Rei, órgão
oficial da Diocese de Toledo, dentre os temas: a vida e testemunho dos Santos
e as reflexões homiléticas, um resumo sobre textos bíblicos propostos para as
celebrações eucarísticas nas comunidades. A respeito dos santos escreveu:
“Nós os temos como ‘amigos íntimos de Deus’ e porque mais próximos de
Deus, por suas virtudes e carismas que praticaram na terra, certamente terão ‘voz e vez’ junto a Deus e poderão nos atender e nos ajudar, principalmente
nas causas da fé e da vivência cristã do dia-a-dia, (...) sempre mantendo a
convicção de Cristo ser nosso único Mediador diante do Pai na presença ativa
do Espírito Santo dentro de nós” (Revista Cristo Rei, julho e novembro de
2005). Em fevereiro de 2007, comentou para os leitores da Revista
Cristo Rei as suas expectativas a respeito da 5º Conferência do Episcopado
Latino Americano (Celam). Quando completou 40 anos de sacerdócio (2007), Pe. Raulino dirigiu seu mensagem a partir da oração do Creio, a profissão de fé dos cristãos. Elencou 12 pontos que disse fundamentar sua caminhada de vida
humana, cristã e sacerdotal. Insistiu que as relações básicas da pessoa humana
acontecem da seguinte maneira: consigo mesmo, com a natureza, com os
outros e com Deus.
Analisando a contemporaneidade à luz dos ensinamentos de
Nossa Senhora, a quem Pe. Raulino nutria grande devoção, disse em entrevista
à Revista Cristo Rei: “Estamos vivendo uma crise de cultura. Nossa Senhora
pode nos ensinar, principalmente intuir, prever, antever o valor da interioridade
do ser humano. Ela pode nos educar muito. A modernidade está com sede de
religião, com sede de Deus e de interioridade, porque somos imagem e
semelhança de Deus, e isso Nossa Senhora nos revela. Quem sabe Nossa
Senhora possa nos trazer esse grande contributo do valor humano do silêncio,
da escuta, da interioridade do ser humano” (maio de 2011).
Como homenagem de honra do município de Toledo, recebeu a
Medalha Willy Barth, em 2008. Por muitos anos, acompanhou os tradicionalistas de Toledo nas comemorações da Semana Farroupilha e do Dia do Gaúcho com a celebração da missa crioula.
EXPRESSÕES DE PE. RAULINO
“Seja feliz neste mundo! E que esta felicidade perdure para sempre, também
noutra vida”! (agosto de 2005)
“Todos nós somos chamados ao céu, mas temos que querer e fazer a nossa
parte porque somos livres. Deus é tão bondoso e misericordioso com a gente que nos deu liberdade para decidirmos”. (novembro de 2009)
“Para vivermos felizes, bem-aventurados, devemos ter espírito de misericórdia, ser portador de paz. Aqui é importante escutarmos os Evangelhos que dão novas possibilidades à vida. São conselhos práticos e objetivos atualíssimos que se puséssemos em prática teríamos nesse mundo a paz”. (março de 2012)
Padre Raulino Cavaglieri foi um dos primeiros professores da Facitol (Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busato de Toledo) que veio se transforma em Unioeste/Campus de Toledo. O professor foi admitido em outubro de 1980 e, atuou como docente na área de Filosofia até se aposentar em junho de 2001. Fez parte da Administração da Facitol e participou ativamente na luta pela criação da Unioeste.
As missas pela morte do professor e padre foi realizada ontem sexta das 16 horas e às 18h30. Hoje 25 de julho, das 9 e às 14 horas será a missa de Exéquias e sepultamento na Cripta da Catedral Cristo Rei em Toledo/PR Toledo.