Interesses pessoais. Embora seja recomendado evitar certezas devido a obviedade da sua rotina, fato certo é que as pessoas são movidas por interesses. Se algo não nos diz respeito, não nos atrai, não na causa emoção, simplesmente ignoramos. Se, no entanto, o inverso aguça nossos pensamentos e sensações, imediatamente dedicamos parte do nosso tempo para conhecer melhor e buscar envolvimento com aquilo que nos animou.
Fazendo uma análise criteriosa, ou mesmo superficial, das coisas factíveis que mais nos interessam, bem como dos pensamentos que tem lugar cativo na nossa cabeça, certamente teremos uma boa medida de quem realmente somos e quais são as nossas tendências. Conectadas essas peças de percepção (autoconhecimento), em um momento de comparação, pare para observar o que na prática fazemos e externamos. O quadro resultante desta reflexão é possivelmente o que mais se aproxima da autenticidade (ou a falta dela) do nosso verdadeiro EU.
Não se assuste. Neste momento a grande maioria de nós descobre que não é totalmente autêntico. E confirmamos, assim, que não “podemos” exercer plenamente a autenticidade devido às conveniências e os interesses envolvidos. Logo, seja para o bem ou seja para o mal, seguimos uma vida de dupla face entre o eu oculto e o eu aparente, sempre de acordo com os interesses que estiverem em jogo nos diferentes momentos da caminhada de cada um.
Mas, quase que como uma regra universal, os interesses comuns mudam na linha do tempo da nossa vida. As diferentes fases podem ser apresentadas em blocos com intervalos de 10 anos:
- 0 a 10 anos. Predominam os interesses típicos de crianças: brincadeiras, curiosidades do mundo, formação dos laços familiares, etc., onde o eu oculto ainda inexiste.
- 10 a 20 anos. Desperta o vulcão hormonal. Entra em campo a vitalidade da juventude, trazendo uma convulsão alucinante entre o eu oculto e o eu aparente. Nesta fase os interesses normalmente são desprovidos de discernimento, é quando ocorrem os maiores embates frente aos interesses sociais estabelecidos que tentam frear a voluntariedade juvenil. No meio deste fervo, entretanto, despertam os primeiros interesses individuais acerca do futuro.
- 20 a 30 anos. Entra em cena a necessidade de definir o futuro profissional. Nesta fase os interesses sofrem uma adaptabilidade quase involuntária sob a premissa de que é preciso “ser alguém na vida”. O eu aparente começa se sobrepor ao eu oculto por conveniência nas relações sociais.
- 30 a 40 anos. Período de construção da maturidade pessoal e profissional. A capacidade de produzir alcança seu auge, em meio a batalha para equilibrar interesses pessoais e coletivos.
- 40 a 50 anos. Depois dos quarenta anos normalmente encontramos o equilíbrio entre o eu oculto e o eu aparente. Os sentimentos e emoções passam a ser um pouco mais espirituosos. Começamos a compreender a interação corpo e mente, cedendo bons espaços da nossa vida para a sabedoria em detrimento da impulsividade.
Depois dos 50 anos... As dimensões acerca da vida se ampliam pelo nosso entendimento.Possivelmente neste período que descobriremos qual nossa verdadeira missão. A soma das experiências angariadas tende a nos levar ao completo equilíbrio do eu oculto e do eu aparente.
Mas cada vez mais, na medida que a velhice se aproxima, o eu aparente vai perdendo sua importância, para dar lugar à essência interior e o cultivo das boas virtudes.
Jair Benke é Economista, escritor, especialista em políticas públicas ,
planejamento municipal, palestrante e colunista no site www.click3.com.br