Aproveitando a moda inaugurada pelo astronauta Neil Armstrong ao por o pé na Lua em 1969, assim que o robô Philae pousou no Cometa Churyumov-Gerasimenko, no dia 12 de novembro deste ano, Jean-Jacques Dordain, diretor geral da Agência Espacial Europeia, se pronunciou sob aplausos: "Um grande passo para a civilização humana e que fará diferença na história da ciência".
O objeto de mais de um bilhão de euros foi operado como um videogame de uma base espacial na Alemanha. A sonda que levou o Philae até a órbita do cometa tem o nome de Rosetta. Rosetta e Philae são nomes associados à história de uma pedra especial encontrada no Egito em 1799. A pedra continha uma inscrição em três idiomas (hieróglifo, demótico e grego), o que permitiu que o arqueólogo Jean-François Champollion no ano de 1822 pudesse decifrar a mensagem ali escrita. Com isso se descobriram muitos detalhes sobre a história da civilização egípcia.
Em visita ao Museu do Cairo, pude obter a informação de que a "Pedra de Rosetta" se encontra exposta como propriedade de um museu em Londres. Se eventualmente acontecer um retorno amplo de peças arqueológicas egípcias que se espalham hoje pela Europa, algumas cidades como Londres, Roma e Paris ficarão um pouco desfiguradas.
O "Projeto Rosetta" foi pensado há 25 anos. A sonda decolou há dez da estação Espacial de Kourou na Guiana Francesa. Depois de viajar por mais de seis bilhões de quilômetros e de ter dado meia dúzia de voltas ao redor do Sol, entrou em órbita do cometa a mais de 500 milhões de quilômetros da Terra. Por causa da distância, o sinal do robô leva meia hora para chegar a Terra. A propósito, este é um problema ao qual os futuros viajantes das estrelas vão ter que se submeter. Não haverá possibilidade de comunicação instantânea em distâncias astronômicas. Espera-se que o resultado da missão provoque uma revolução no entendimento sobre o surgimento do universo, da vida, estas coisas...
Desde a infância fui fascinado por estes tipos de acontecimentos. Através de um radinho de ondas curtas, durante o Natal do ano de 1968 acompanhei a viagem dos três primeiros astronautas que orbitaram a Lua. Aquele Natal continua marcado para mim. No ano seguinte, aconteceu ali o pouso de uma nave tripulada (muitos até hoje não acreditam). Contudo, as viagens tripuladas pelo espaço para além da órbita da Terra, pretendem ser retomadas. Fala-se agora de uma visita a Marte, "Projeto Orion", etc.
Não se pode ignorar o mérito de um projeto como o "Rosetta". Contudo, tais feitos parecem ter perdido o brilho. O estilo adolescente do robozinho transmitindo mensagens anteriormente armazenadas, pessoas aclamando o pouso e jurando estar ouvindo a "música" do cometa, só aumenta meu descrédito. Envernizado com glamour, o toque nas estrelas pode revelar uma atitude desesperada: como a coisa aqui em baixo está dando errado, quem sabe poderemos começar melhor noutro lugar.
Na condição de ser humano quase impotente que habita o planeta Terra neste início de século, sinto-me pessimista em relação a projetos deste tipo. Perdemos o foco. Ao vencer a distância, perdemos nossa humanidade. Ao procurar saber como começou a vida, nos descuidamos do único ambiente conhecido que é capaz de mantê-la. Por isso, de boa vontade, façamos o bem enquanto é tempo. Que seja este o foco em 2015.
O autor é docente na Unioeste tarcisiovanderlinde@gmail.com